quarta-feira, 5 de junho de 2013

Em um país nº 1 da educação, um item essencial é o respeito ao professor

No Brasil há muitas Escolas com Projetos educacionais excepcionais. Na rede municipal de Porto Alegre e na Escola onde atuo, não é diferente. Então, o que falta para dar certo na Educação Pública Brasileira? 



O diálogo e a experiência de outros países podem nos ajudar a refletir, compreender e construir alternativas para nossos problemas.



Nesta semana, li mais uma matéria sobre o ensino na Finlândia. Costumo brincar com outros professores que a gente precisa ir para lá, trabalharemos menos e com menos frustração, estudaremos mais e seremos reconhecidos e valorizados como profissionais. 

Quem não atua nesta área e na periferia das grandes cidades, por favor, não escute apenas as falas das pessoas acadêmicas ou o discurso dos políticos em relação a educação e aos professores. Há uma distância enorme entre o que se diz e o que se faz no Brasil. 
No discurso educação é prioridade sempre e os professores são uns heróis. Mas não é bem assim. Para ver a contradição é necessário olhar os dados educacionais, os recursos investidos nesta área, analisar as pesquisas e as falas dos professores e alunos, e também ver como a cultura, a violência do entorno social, as drogas e a saúde afetam a dinâmica e a vida dentro de uma Escola.

Na reportagem sobre a educação na Filândia percebo muitas diferenças com o Brasil e realmente acredito que não teremos uma educação de qualidade se não superarmos algumas destas dificuldades. Que fique claro não estou dizendo que temos que copiar o modelo deste país. 
Na entrevista, a professora brasileira na Finlândia, deixa muito nítido as principais diferenças com a nossa realidade:

- Ser professor na Finlândia é ser respeitado diariamente, tanto quanto qualquer outro profissional;

- O segredo do sucesso do sistema finlandês de ensino não tem nada a ver com métodos pedagógicos revolucionários, uso da tecnologia em sala de aula ou avaliações nacionais. O lema é treinar o professor e dar liberdade para ele trabalhar;

- O respeito pelo próximo é algo muito enraizado na cultura;

- Total liberdade para avaliar o aluno, se tem uma lista de coisas que ele tem de aprender até o fim do ano, mas como fazer fica a critério do professor;

- Casos de violência ou bullying* são muito raros nas escolas;

-  Existe um plano para cada tipo de aluno;

- Existe um comprometimento dos alunos, dos pais e da comunidade com a aprendizagem e eles aprendem que o respeito e a honestidade vem em primeiro lugar;

- Um professor quando adoece pode ausentar** até 3 dias, porque se confia na sua palavra;

- Não precisa-se aplicar prova a toda hora, nem justificar nada para o coordenador;***




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* A professora na reportagem relata que no Brasil sofria bullying e que os professores não tem o respeito dos pais.


**Lembrei da burocracia que passei estes dias quando meu filho ficou doente, precisei em 24 horas buscar um laudo na escola, ir na biometria da prefeitura e ter um atestado médico preenchido adequadamente, segundo ofício tal... caso contrário não seria aceito, e ficaria com falta funcional. Além de lidar com o estresse da situação da doença do seu familiar, ou a sua própria, você precisa ficar correndo de um lado para outro. Bom não preciso dizer que quando é você a pessoa doente, isto fica muito pior.

*** Não faço ideia, mas sei que não foram poucas as fichas sobre perfil de turma, diagnóstico, avaliação, conteúdos, objetivos, cadernos de disciplina e etc... que foram preenchidos  nestes 3 primeiros meses a pedido da supervisão da Escola.

Abaixo trechos da reportagem:

‘Me sinto uma rainha’, diz brasileira professora no país nº 1 em educação


Publicado em 3 de junho de 2013 por Pavarini

Luciana Pölönen dá aulas de português em Espoo, na Finlândia (Foto: Arquivo pessoal)Luciana Pölönen dá aulas de português em Espoo, na Finlândia (Foto: Arquivo pessoal)


Vanessa Fajardo, 


País com a melhor educação do mundo, a Finlândia tem entre os seus professores da rede pública uma brasileira. Luciana Pölönen, de 26 anos, nasceu em Salvador (BA), é formada em letras pela Universidade Federal de Bahia (UFBA) e se mudou para Finlândia em 2008, com objetivo de fazer mestrado. Desde 2010, compõe o corpo docente finlandês. No país do Norte da Europa, mais do que emprego, ela encontrou a valorização da profissão de lecionar.


“Eu me sinto como uma rainha ensinando aqui. Ser professor na Finlândia é ser respeitado diariamente, tanto quanto qualquer outro profissional!”, afirma a brasileira, que se casou com um finlandês, tem uma filha de três anos, Eeva Cecilia, e está grávida à espera de um menino. “Aqui na Finlândia o sistema é outro, o professor é o pilar da sociedade.”


A comparação com sua experiência escolar no Brasil é inevitável. “No Brasil só dei aulas em cursos, mas estudei em escola pública, sei como é. Sofria bullying, apanhava porque falava o que via de errado e os professores não tinham o respeito dos pais”, diz Luciana.


Por quatro anos consecutivos, a Finlândia ficou entre os primeiros lugares no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que mede a qualidade de ensino. Durante visita em São Paulo, na semana passada, a diretora do Ministério da Educação e Cultura, Jaana Palojärvi, disse que o segredo do sucesso do sistema finlandês de ensino não tem nada a ver com métodos pedagógicos revolucionários, uso da tecnologia em sala de aula ou avaliações nacionais. O lema é treinar o professor e dar liberdade para ele trabalhar.


Luciana aprova o método. Há dois anos dá aulas na Escola Europeia de Helsinque, capital da Finlândia, de nível fundamental e médio e há um ano leciona português em uma escola de ensino fundamental em Espoo, cidade próxima à capital. “Dou aula de português porque toda criança falante de duas línguas tem o direito ao ensino de uma língua estrangeira na escola. Ou seja, todos os filhos de brasileiros têm direito ao ensino de português como língua mãe.”


(...)


“Tenho total liberdade para avaliar meu aluno, tenho a lista de coisas de que ele tem de aprender até o fim do ano, mas como vou fazer fica a meu critério. Não preciso aplicar prova a toda hora, nem justificar nada para o coordenador”, afirma. “Temos os alunos aprendem porque há um comprometimento deles, dos pais e da comunidade. “Eles aprendem o respeito desde pequenos, a honestidade vem em primeiro lugar. As pessoas acreditam umas nas outras e não é necessário mentir. Um professor quando adoece pode se ausentar até três dias. Funciona muito bem.”


Para Luciana, os alunos aprendem porque há um comprometimento deles, dos pais e da comunidade. “Eles aprendem o respeito desde pequenos, a honestidade vem em primeiro lugar. As pessoas acreditam umas nas outras e não é necessário mentir. Um professor quando adoece pode se ausentar até três dias. Funciona muito bem.”


Luciana voltou a trabalhar quando a filha tinha apenas um mês. Era um trabalho de tradução que às vezes fazia de casa ou ia até a empresa que ficava próxima à sua casa. Escapava para amamentar no intervalo do café. “Aqui a licença maternidade dura três anos, as pessoas achavam um absurdo eu trabalhar com uma filha de um mês. Na verdade faz parte da educação deles, hoje eu entendo mais.”


O respeito pelo próximo também é algo muito enraizado na cultura do finlandês. Luciana diz que diferente do Brasil, nunca sentiu preconceito na Finlândia por ser negra ou estrangeira. “Aqui as pessoas não parecem notar a cor de pele do outro contanto que exista respeito mútuo.”


Casos de violência ou bullying são muito raros nas escolas. “Foram cinco casos de violência no ano, mas para eles é um absurdo, não deveria acontecer. Eles sempre têm um plano para cada tipo de aluno, não é uma única forma para a classe inteira. No final, todos alcançam o mesmo objetivo.”(...)

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